Não sei o que é estar presa no lugar onde tu estás, mas eu sei o que é estar presa. Não sei o que é estar afogada nos pensamentos que tu tens, mas eu sei o que é estar afogada em pensamentos maus. Quero que saibas que há mãos estendidas a tentar encontrar-te debaixo de tudo o que te afoga. Há braços abertos ao teu lado. Há amor à tua espera.
Não sei tão bem como tu o que é ser assombrada por um passado como o teu, mas eu vejo-o. Os teus olhos dizem-me mais do que aquilo que tu gostarias que eu soubesse. Quero que saibas que no meu olhar não há julgamento. Eu quero compreender-te, e por isso olho nos teus olhos. Eu quero ajudar-te, e por isso estou aqui.
Quero que me contes as tuas dores, quero que me descrevas a viagem que te trouxe até aqui. Quero que me digas quais animais te atacaram, quais vozes tu ouviste, quais atalhos apanhaste, quais placas não conseguiste ler, quantas vezes tu caíste, e como te levantaste. Quero que saibas que eu olho para ti como um peregrino corajoso, e faminto depois de uma longa viagem; com saudades de casa, da qual já nem te lembras.
Bem sei que sou privilegiada por estar em casa. Eu sei que a tua jornada até aqui foi dificílima, e que estiveste sempre sozinho. Quero que saibas que já não tens de estar sozinho; tu já não estás sozinho. A tua viagem dura trouxe-te até à minha casa – eu sempre estive aqui, mas agora tu também estás. Em tudo o que for possível, quero que faças desta a tua casa também.
Tira os sapatos, toma chá, pega em roupas limpas e põe-te debaixo de um cobertor. Se aceitares a minha ajuda, verás que todas as portas desta casa nunca sequer estiveram fechadas. Quero que saibas que a minha felicidade não vem de mim, mas vem de algo independente de qualquer coisa em mim. A minha felicidade é tanto minha quanto pode ser tua. Tudo o que tenho só está ao teu dispor porque não é meu. Porque o Amor que um dia esteve à minha espera é O que hoje te espera também.
Com sinceridade,
Rebeca Roxo Couto