ventos crescentes

Cansaço. Esta palavra que, quando há que dizê-la, cansa até dizê-la. O desgaste é tão multifacetado quanto nos obriga a sê-lo. Há que ter um sorriso para uns e cara séria para outros. Energia artificial, interior colado com cuspo. Cada palavra pesa na língua, e ainda assim há tantas para dizer, há tantas perguntas que nos fazem que nos sentimos obrigados a responder.

Tivemos um dia difícil, e só queríamos estar longe de tudo e todos. Descansar, reflectir sobre o passado, pensar sobre o futuro, talvez até sentir pena de nós próprios…

Mas as dificuldades normalmente preparam-nos para futuros melhores. A maneira como a tua vida voa, igual ao vento, e empeça em árvores e casas e pessoas e montanhas, e conhece a voz que sussurra no mar para além do som das ondas, e descobre os segredos enterrados nas canas de bambu, vai ensinar-te a correr na mesma direcção que as correntes mais fortes, sim, aquelas que poucos conseguem acompanhar. As dificuldades fazem-te crescer, fazem o teu andar crescer; tanto alargaste o passo para ultrapassar uma pedra que impedia o caminho, que algum dia farás uma maratona em meia dúzia de passos.

É assim que as coisas fluem. Nós somos um sopro, um vento, no tempo um momento.

Somos ventos crescentes, e é normal que nos cansemos de correr pelas planícies, montanhas, mares, cidades e florestas. Ainda assim, não deixamos de correr.

As pessoas vêm e vão, mas não é na chegada nem na partida que acontece a vida.

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *