Por vezes, para ajudar alguém, a melhor coisa a fazer é sair do caminho da pessoa.
Não há mal nenhum em admitir: “eu não consigo ajudá-lo”. Podes ter a certeza de que, tal como há coisas em ti que outros jamais seriam capazes de mudar, há coisas no teu próximo que nem tu, mesmo que sejas especial para ele, serás capaz de alterar. Há áreas da vida dos outros em que eles já se esconderam ou afastaram tanto de ti que, ali, já nem fazes diferença. Dói mais ainda porque essas são as áreas em que mais queríamos estar presentes, talvez até pelo simples facto de nos estarem ocultas. Bem sei. É por isso que ajudar é tão difícil – porque tiras de ti para dar a quem não tem, e, por vezes, esse será um processo de retirada. Será abandonar uma missão que amavas, mas aos teus olhos infrutífera. Será pousar a tua arma para desviar um obstáculo do caminho do teu parceiro, sabendo que isso lhe abrirá um atalho e te custará a vida que já investiras nele.
Então, confia em mim quando digo: há coisas que não nos competem.
Há batalhas que não são nossas, e lutá-las nunca será uma questão de dever. Há caminhos que só fazem sentido quando os trilhamos sozinhos, há lições que só aprendemos se formos nós próprios a encontrar e a seguir as direcções. Por vezes, estarás a cuidar do outro apenas permitindo-o fazer isso. A questão é esta: tens a opção de te exaurires num campo onde o teu trabalho jamais será recompensado, e tens a opção de desistir, lavar as mãos e ir trabalhar para um lugar onde, mesmo que não te reconheçam, ganharás suficiente recompensa ao ver necessidades supridas por ou através de ti. Com desistir, não entendas “largar uma causa que apenas pedia o teu esforço”, mas sim “encerrar a tua insistência num assunto em que eras impotente”. Se estiveres a gritar num lugar onde as tuas palavras não preenchem lacunas de significado, a tua voz tornar-se-á mero ruído para aqueles que têm, de facto, o dever de falar naquele lugar.
Por muito perto que aquela pessoa esteja do teu coração, recorda que, longe da sua mente, tu és como um entre muitos grãos de areia numa ampulheta – caíste pelo funil dos propósitos, e assim cumpriste os teus na vida da pessoa. Agora, no fundo e entre os outros grãos de areia, és tempo passado.
E isto não faz de ti menos importante – mas faz com que a tua presença hoje seja menos relevante na vida daquela pessoa. E isso não é de todo mau. A tua ausência pode ser imensamente mais relevante – até mesmo para uma futura reconciliação. Para além disso, poderás sempre saber que, quando deixas de ser necessário num lugar, és chamado noutro, e apenas precisas de estar disponível para ouvir e responder. Para isso, terás de te afastar do que te ocupa agora. E, embora este processo te possa doer, será melhor para ti também.
Sai do caminho da pessoa, se aos olhos dela fores um tronco que a impede de prosseguir. Se, na melhor das hipóteses, fores um sinal que ela nunca se dará ao trabalho de ler. Sai do caminho da pessoa, pois, mais tarde ou mais cedo, ela será um carro veloz sem medo de te partir para chegar ao seu destino.