Depois deste minuto de vídeo, um minuto durante o qual me perguntei o que haveria de especial neste homem, e o que faltaria nas pessoas todas que o seguem, cheguei à conclusão de que este é um homem com uma cara amigável.
Cheguei a comentar no vídeo “he’s just a guy with a friendly face”.
A princípio achei piada a este vídeo, a toda a situação. À maneira como o homem anda entre as multidões, com a confiança de quem está a emanar um encantamento mágico para trazer felicidade ao mundo, e as pessoas quase desmaiam à sua volta, como quem respira realmente esse encantamento.
Depois atingiu-me a percepção verdadeiramente perturbadora de que este vídeo só revela o quão desesperado o mundo está por uma cara amigável. He really is just a guy with a friendly face, and that’s a deeply sad problem. Fui apagar o meu comentário e vim escrever o porquê. O que acabei por escrever, afinal, nem sequer é exactamente sobre este homenzinho.
Alguém com uma cara honestamente amigável, amigavelmente honesta. É essa a resposta à minha pergunta. O que é que este homem tem? Ele tem precisamente isso: um par de olhos mansos, pacíficos, felizes, longe do conflito e sem perturbações. Talvez até um sorriso. Eu gostei do olhar dele. É verdade, transmite esperança, tal como o vídeo diz. A questão aqui é que isso não é magia nenhuma. A questão é que é suposto isso acontecer, porque a esperança vem mesmo de coisas como esta. Olhares amigáveis e pacíficos. Coisas que são pequenas e enormes. A questão é que hoje isto é tão raro que, quando aparece alguém assim, é um evento noticiado. O mundo está mal ao ponto de algo tão pequeno renovar a esperança das multidões. Neste momento, o mundo está tão perdido que é em algo tão pequeno que as pessoas recuperam o sentido da vida.
Nesta altura de Páscoa, ainda é mais adequado dizer que, apesar deste ser um olhar pelo qual o mundo está sedento, não passa disso. É um olhar. Melhor dizendo, é um olhar que todos deveríamos fazer, e podemos, porque está ao nosso alcance. Se temos uma cara e uma consciência, temos o mesmo potencial que aquele homem para ter um olhar como o dele. A nossa dificuldade é que o mal pesa em nós, e pesa na cara também. O que este homem conseguiu que poucos conseguem foi livrar-se das mágoas e dos erros que pesam no seu semblante. É alimentar aquilo que ele tem de bom dentro de si até isso ultrapassar qualquer negatividade interior ou exterior que possa ofuscar a sua beleza. Ele conseguiu transparecer a sua beleza interior, que realça a exterior, e nos recorda de que nem tudo no mundo é assim tão mau. Isto não é uma questão de sobrevivência. Armas são uma questão de sobrevivência, e força. Este olhar não faz dele mais forte. Torna-o mais transparente e vulnerável. Mas podemos escolher interpretar isso como a verdadeira força, porque isto é o bem, e talvez estes olhares sejam a arma do bem. Mais que sobreviver, é viver. Talvez haja mesmo um propósito nisto tudo, afinal. Imaginem se todos na rua tivessem este olhar.
Contudo, de novo, é apenas um olhar. Estarmos incapacitados de fazer este olhar e espantarmo-nos quando alguém o faz é um problema. Contudo, isso revela apenas o nosso maior problema, que é estarmos a definhar enquanto espécie, e perdermos a nossa profundidade espiritual ao ponto de encontrarmos o sentido da vida numa coisa que deveria ser banalíssima. Eu encontro uma enorme beleza e bondade neste olhar, e há muito que contemplar e elogiar aqui. Contudo, não posso enaltecer este olhar sabendo que há muito mais para além disto.
A nossa realidade relevada neste vídeo de 60 segundos é que estamos tão secos que nos contentamos com uma gota de água, esquecendo que, na verdade, temos a necessidade urgente de saciar a sede, tomar banho e dar um mergulho refrescante. Encontrarmos tamanha esperança numa coisa tão pequena mostra o quão desolados estamos, porque a realidade é que temos potencial para tanto mais. Acho que não é ao acaso que um olhar positivo comove tanto as pessoas. Em último caso, é a nossa própria busca por sentido que denuncia a realidade de que ele existe, por aí algures.
O nosso problema maior é que algo tão sério quanto o sentido da vida não vem de um olhar amigável. Por muito precioso que este seja, e ainda que nunca o devamos chegar a tomar por garantido, este olhar não opera milagres, nem tem a reposta às nossas mais profundas questões.
Coincidentemente, a Páscoa não é uma celebração de coelhinhos, ovos e chocolate, como nos podem levar a crer a Pop Culture e a apropriação cultural Católica da celebração da deusa Ostara. A Páscoa é celebrada porque houve um homem chamado Jesus que, a cerca de 30 d.C., morreu crucificado aquando da Páscoa Judaica, altura do ano em que os judeus celebravam Deus ter libertado o povo israelita da escravidão no Egipto (c. 1450 a.C.). O nosso calendário é organizado com centralidade no nascimento deste homem, Jesus.
A História dá-lhe todo este crédito porque ele fez várias afirmações muito sérias, e há registos históricos que lhe dão validade. Ele disse que era o Messias, que morreria pela Humanidade para que esta pudesse voltar a ter contacto com Deus. Ele disse que era o Caminho, a Verdade, e a Vida, e o único mediador entre Deus e os Homens. Ele identificou-se como sendo o próprio Deus criador. Ele prometeu à Humanidade vida, e vida em abundância. Na sequência de tudo isto, a história deste homem não acabou naquela cruz. Os registos sobre a vida de Jesus dizem que, 3 dias depois de morrer, ele ressuscitou, provando assim a validade do seu sacrifício pela Humanidade. Testemunhas oculares escreveram o que viram, historiadores escreveram o que investigaram e perguntaram, e seguidores de Jesus escreveram o que viveram, provando-se no final dispostos à martirização pela certeza que tinham de que Jesus vive. Hoje celebramos a nova Páscoa, aquela em que Deus, através de Jesus, nos liberta da escravidão no pecado.
Os melhores registos sobre este homem encontram-se compilados no Novo Testamento da Bíblia. As promessas messiânicas que ele acreditava cumprir estão no Velho Testamento. Falando por experiência própria, depois de ler afirmações deste género, seria ridículo simplesmente ignorar. Se estamos à procura da verdade nesta vida, acho difícil algo desta escala passar-nos ao lado, e admitirmos que se pressuponha falso sem sequer o investigarmos por nossa própria conta.
Se um senhor com um olhar simpático merece desde 60 segundos da nossa atenção até às lágrimas de centenas de seguidores, o que nos impede de dedicar um pouco do nosso interesse ou curiosidade a um homem que marcou a Humanidade de tal modo que alterou o nosso calendário, o nosso conceito de moralidade, o nosso olhar sobre o mundo, a vida de milhares de milhões de pessoas, e, acima de tudo, que prometeu trazer a única salvação possível à nossa miséria espiritual, e o único preenchimento real do vazio que há em todos nós? Se um olhar amistoso desperta a nossa atenção, o que dizer do homem que se entregou à morte injusta na cruz, afirmando fazê-lo no lugar de cada um de nós, e passados 3 dias ressuscitou?
As pessoas às vezes buscam nos outros aquilo que não conseguem alcançar. Braco The Gazer não fala? Sua grande virtude é apenas um olhar sereno? O povo está cada vez mais perdido.