solo firme

Pode existir paz em não saber todos os porquês – isto acontecerá quando nos libertarmos do ter de saber.

Eu tenho medo da ignorância porque sei o que está no destino a onde ela me leva. Contudo, a verdadeira paz é não ter medo nem sequer das coisas más, porque não são elas que me conduzem. Por outras palavras, eu não sou levada pela ignorância; mas, ignorante, sou levada por uma voz que tem todas as respostas.

Por isso posso descansar quando ainda não atingi o pleno conhecimento – e, nesse descanso, as nuvens começam a dissipar-se, e as ondas começam a amainar-se. Nisto, ironicamente, muitos porquês tornam-se evidentes, e o que sobra por explicar não precisa de explicação.

Começo a ver juntarem-se as peças do puzzle; e tudo começa a fazer sentido.

Mas ser encarregue de tal conhecimento e clarividência sobre a nossa própria vida não vem sem o gosto do terror.

Aquilo que está adiante é ao mesmo tempo pavoroso e entusiasmante como nada mais alguma vez o foi. Diante de mim, no meio da tempestade, uma voz chama-me a caminhar sobre as águas.

Esta aventura é terrífica, e no meio dela a voz que me chama é a incorporação sonora da própria paz. O meu barco afunda pela minha falta de fé, e a minha pouca fé esmorece ao sentir o barco afundar. Mas a voz que me chama é o som que acalma a tempestade que há dentro de mim.

Esta voz chama-me para perto de si e direcciona-me para longe do barco. O barco pode ser uma metáfora para qualquer coisa na vida, mas será sempre o símbolo da minha insegurança e falta de fé. Se eu tivesse completa confiança na voz que me chama e não acarinhasse as minhas dúvidas, eu não precisaria de um barco para atravessar o mar.

Hoje coloco os pés sobre as águas porque sei que, mesmo que eu caia, este não é um passo no vazio.

Que o meu “porquê eu?” se transforme no “eis-me aqui” que Isaías me ensinou a dizer. Que o meu “porquê agora?” se transforme num permanente “eis aqui agora o tempo aceitável, eis aqui agora o dia da salvação”. Que o meu “porquê esse lugar?” se transforme nas “todas as nações”, onde o meu Senhor Jesus me mandou ir. Que todos os meus “porquês” se transformem num sincero “para quê?”, um transbordar do meu desejo de servir os propósitos de Deus, seja quando for, em qualquer lugar.

E que a minha fé seja o solo firme onde pisam os meus pés, e que o meu Mestre me leve em liberdade até onde ele me chamar.

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