gentil e radical

Quando ajudaste um bichinho-da-conta a atravessar o passeio e o levaste em bolinha até à grama verde, tu mudaste o mundo.

Quando te maravilhaste com a beleza que há na dança das folhas das árvores, na luz que passa por entre elas e no desenho de sombras que lançam no chão, tu mudaste o mundo.

Quando cozinhaste para os teus vizinhos e deste sem receber, tu mudaste o mundo.

Quando limpaste o chão que não sujaste, tu mudaste o mundo.

Quando te sentaste e ouviste, quando olhaste nos olhos e te colocaste no mesmo nível de alguém que aparentava ser diferente de ti, tu mudaste o mundo.

Quando procuraste o que há em comum, quando acreditaste de coração que muito mais é o que nos une que aquilo que nos separa; quando escolheste pela reconciliação, tu mudaste o mundo.

Quando recebeste o desconhecido e convidaste o estrangeiro, quando te interessaste pelo que não sabias e perguntaste, “como pode isso ser?” Quando te apaixonaste pelas diferenças e aniquilaste as divisões, tu mudaste o mundo.

Quando o teu cosmos foi abalado e fortalezas caíram como um palácio de cartas, e tu choraste – revoltadx contra a mentira, maravilhadx pela colossal arquitectura da verdade outrora escondida. Tu mudaste o mundo.

Quando o mundo te pareceu frio e desolador, tudo à tua volta, nada mais que uma farsa religiosa; quando sentiste saudade do calor Humano e viste que ninguém mais mantinha a chama acesa: nesse dia, tu, sozinhx, mudaste o mundo.

Pois que têm as trevas contra a luz? Não a compreendem. Luta e descansa, sabendo que a luz será sempre mais forte.

Confia nessa energia gentil e radical que emana do teu olhar, e recorda o dia em que a permitiste viver dentro de ti. Dela, um só fio será manancial de esperança: basta somente que não tapes os olhos.

Num mundo de indiferença e superficialidade, revolução é cuidar dos detalhes e amar profundamente as coisas pequenas. Num mundo de medo, frieza e jogos de poder, revolução é esta tua paixão pelas vozes que não falam e pelas necessidades que se escondem. Num mundo perdido e desolado, revolução é este calor, o sentido de propósito, sobre tudo um olhar redentor.

Serão contadas muitas estórias de como apenas os comilões e beberrões se sentam à mesa com quem não tem o que comer. Ouvirás que este mundo não é lugar para ti, pequeninx e inocente. Serás alvo das flechas de quem não percebeu nada.

Mas a verdadeira ordem das coisas surpreenderia esta raça de víboras. É que o limite do amor vai muito além do perímetro do olhar, e quem sabe isto não se deixa enganar pela hipocrisia da sua geração. Não te aflijas – não estás só.

O sangue deles é sobre as suas próprias cabeças; quanto a nós, partimos para aqueles que precisam.

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