banda sonora: “Alpha and Omega (Soaking Worship)” por André Lima
Quero declarar aos sete ventos: Eu estou disposta a embarcar nesta aventura.
Ao mesmo tempo, só queria ficar onde estou.
Só queria sucumbir e não me mexer mais.
Ceder à minha eterna saudade e nunca deixar o conforto do lar.
Não queria nunca ter de sair daqui. Não queria nunca deixar de respirar este ar, observar estas paisagens, ouvir estes passarinhos, tocar este verde. Desfrutar desta família.
Se eu pudesse sempre fazer o que me apetecia, provavelmente seria mais uma das criptomérias do meu quintal.
E todas as noites veria o céu estrelado, e todas as manhãs os pássaros festejariam com cânticos nos meus braços, e todos os crepúsculos os meus cães enrolar-se-iam em sono pacífico aos meus pés.
Todos os dias de sol sentiria aquele cheiro a humidade evaporada da relva. Todas as tempestades enfrentaria o vento e absorveria o nevoeiro. E todas as noites veria o céu estrelado.
E então eu sonharia. Sonharia ser alguém. Sonharia ter pernas para passear o planeta, ter boca para ir a Roma e alma para ver o mundo.
Sonharia ser mais do que verde. Sonharia poder abraçar alguém de volta.
Neste momento queria ser uma árvore, plantada, e plantada na minha casa. Na casa da minha infância. Queria voltar ao início e sentir-me protegida outra vez.
Mas eu sei que se fosse uma árvore plantada não poderia ver árvores.
Se eu fosse uma árvore plantada nunca teria visto o mar, o meu querido e precioso mar, que está logo ao final da rua, virando a esquina. Se eu fosse uma árvore plantada não poderia ir procurar o céu de outros lugares, as paisagens de outras terras, e nem poderia descobrir que se pode ter mais que um lar. Se eu fosse uma árvore, nem sequer poderia chorar por não ser outra coisa qualquer.
Eu sou humana. Uma, pequena, frágil, errante humana. Saudosa humana. Viajante humana. Crente humana.
E estou disposta a embarcar nesta aventura.
Outros lugares chamam por mim, e esta será uma jornada de aprender
que nem sempre mudar significa perder,
que o coração do Homem tem espaço para crescer,
que tudo o que em mim levo e sou nunca vai desaparecer.
Dizer “adeus” é tanto um ato de guardar quanto de deixar ir, e
a dor é o preço a pagar pelo amor.
– 12.1.2021